Zaha Hadid: A Lendária Arquiteta – História e Legado

Adrimar Construtora 17 de julho de 2018
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Uma garota Muçulmana de família liberal e educação católica e universal

Nascida em Bagdá, em 31 de outubro de 1950, época em que a capital do Iraque florescia cultural e economicamente antes de um longo período de guerra contra o Irã (início da década de 80), Zaha era filha de Industrial e Político liberal e progressista educado em Londres, que despertou seu gosto pela arquitetura desde a infância. “Meu pai fazia questão que eu visitasse todos os prédios importantes à vista!”, disse em uma entrevista. A arquiteta relembrou que se encantou pela profissão com apenas 6 anos, quando, durante a construção de uma casa para sua tia no norte do Iraque, um arquiteto amigo da família mostrava a ela todos os projetos e desenhos.
Mesmo tendo origem muçulmana, a família liberal permitiu que Zaha estudasse em colégio católico e tivesse uma educação mais universal, livre de limitações culturais e religiosas.

AA School, Mestres e a Influência da escola Suprematista Russa

A primeira formação de Zaha foi em Matemática, na Universidade Americana de Beirute, no Líbano. Em 1972, já formada, aos 22 anos, seguiu rumo a Londres para estudar arquitetura na Architectural Association School of Architecture, popularmente conhecida como AA e considerada um centro experimental de arquitetura, desde sua origem, em 1847.
Foi nesta escola onde Zaha conheceu dois professores para os quais colaborou e acabou desenvolvendo uma grand relação profissional e de amizade: os renomados teóricos e arquitetos Elia Zenghelis e Rem Koolhaas, com quem estudava a arte de vanguarda russa. Para a arquiteta, a arte abstrata desta vertente abriu possibilidades ilimitadas de criação. Anos depois, a arquiteta agradeceu aos dois orientadores em seu discurso de recebimento do Prêmio Pritzker, por a encorajarem a ter ambição e a ensinarem a teoria necessária para ter confiança até em suas intuições “mais estranhas”.
Seu especial interesse foi pelo movimento Suprematista da década de 20, dos artistas Kazimir Malevich e El Lissitzky, que a aproximaram da pintura: ela passou a considerar o pincel um instrumento arquitetônico, pois até então sentia-se limitada pelos sistemas tradicionais de desenho da arquitetura. Outro aspecto bastante valorizado por Zaha foi a utilização de camadas nas imagens. Em posse desta teoria, ela assumiu a tarefa de seguir com o projeto modernista, e prestou atenção especial em como a fragmentação, na arquitetura e na arte, é capaz de oferecer porosidade, ao invés de fortificação.
Zaha transformou composições abstratas de Malevich em projetos arquitetônicos na escola. Em 1983, quando apresentou um de seus projetos mais famosos, The Peak, muitos pensavam que ele fosse influenciado pelo uso de computadores, mas na verdade, era a revelação da clara influência acadêmica suprematista da arquiteta, comenta o crítico Joseph Giovanni. A tese de graduação de Zaha homenageou os artistas suprematistas até no nome: Malevich’s Tektonik é o conceito e design de um hotel de quatro andares.

Os primeiros passos na profissão

Entre 1977 e 1981, ela colaborou com o Office for Metropolitan Architecture, importante estúdio de arquitetura e análise cultural fundado pelos professores que admirava durante o período na AA, que continua em atividade até hoje. Um dos trabalhos mais interessantes da proventosa parceria entre Zaha, Elia Zenghelis e Rem Koolhaas é o projeto de ampliação do Parlamento Holandês, entre 1978 e 79.
O projeto foi desenvolvido para um concurso de revitalização dos prédios que demandava uma reinterpretação profunda do espaço, que fica no centro de Haia. O trio apostou em uma solução pós-moderna que combinava as ideias de cada um dos arquitetos, ao mesmo tempo independentes e integradas. O desenho não foi tirado do papel, mas se tornou um tratado do trabalho dessa equipe.
Na década de 80, quando fundou sua própria empresa, a Zaha Hadid Architects, Zaha começou a receber o prestígio que, mais tarde, seria intrínseco ao seu nome. Entre 1982 e 1983, ela idealizou o projeto The Peak, que venceu um concurso para construção de um clube nos montes de Kowloon, em Hong Kong, mesmo fazendo apenas cinco anos que havia concluído oficialmente a graduação em arquitetura. Apesar de ser um dos mais lembrados da carreira de Zaha, o projeto também nunca foi tirado do papel. Antes que a construção pudesse começar, o cliente perdeu o terreno na época em que a Grã-Bretanha devolveu Hong Kong, até então uma colônia, à China. Mas seus desenhos ganharam status de obras de arte.
Foi apenas em 1993 que o primeiro projeto do escritório de Zaha ganhou vida. O campus de design Vitra, na cidade alemã Weil am Rhein, precisou ser reconstruído após passar por um incêndio. Uma década depois decidiu-se erguer uma estação do Corpo de Bombeiros no campus. Zaha foi escolhida para realizar a obra, cujo projeto se ancora na linguagem desconstrutivista marcante nos desenhos e pinturas da arquiteta. O prédio de concreto, estreito, revela características que acompanhariam Zaha por toda a carreira, como a sensação de instabilidade e dinamismo causada por suas linhas — que, nos projetos posteriores, tornaram-se curvas. Atualmente, o prédio tornou-se um museu de design de móveis.

Um resumo do Legado de Zaha: Quebra de paradigmas transportam a arquitetura para a modernidade.

É difícil apontar qual é a obra de maior notoriedade feita por Zaha. Ela construiu prédios em dezenas de países, e todos os projetos têm alguma característica marcante que mereceria destaque. Os prédios construídos por ela, valorizam a grandiosidade e frequentemente são elogiados como “dramáticos” e “desafiadores”.

The Peak Leisure Club

O projeto idealizado para um clube em Hong Kong é um dos trabalhos mais conhecidos da arquiteta. The Peak incorpora as rochas ao redor do prédio como um elemento essencial da arquitetura e parece desafiar a gravidade. Apesar de nunca ter saído do papel, nas palavras do crítico e arquiteto Joseph Giovanni, o projeto representa “uma tese fundamental para a arquitetura, um inesperado precedente para o paradigma da Modernidade: da simplicidade para a complexidade”. The Peak é “tão original para a arquitetura quanto a escala cromática foi para a música um dia”.

Centro Aquático de Londres: A obra de maior destaque Mundial

Construído para as Olimpíadas de 2012, a inspiração para o desenho é a fluidez da própria água, tanto das piscinas quanto dos sete cursos d’água que passam pelo parque. E, claro, as curvas, que são a evolução dos traços de Zaha na maturidade de sua carreira. O centro reflete suas principais preocupações arquitetônicas: a utilidade para as pessoas que o frequentam e a integração com a cidade.
O projeto previu comportar até 17.500 pessoas durante as Olimpíadas, por meio de arquibancadas temporárias, que foram substituídas por arquibancadas permanentes após o evento e hoje atendem um público de até 2.500 pessoas. Após as Olimpíadas também foram incorporados grandes painéis de vidro entre as arquibancadas, e a cobertura curvilínea — o grande atrativo da obra.
As três piscinas (duas para treinamento e uma para os jogos) são dispostas longitudinalmente ao eixo da estrutura. Os seis trampolins de salto são feitos com o mesmo concreto da parte inferior da construção e se integram ao ambiente como uma parte estrutural. Três pontos principais de concreto sustentam a estrutura. A quantidade reduzida de pontos é uma preocupação para tornar a visão do público para as piscinas mais ampla e sem obstáculos. E, claro, contribuir para a sensação de fluidez da construção.
Devido à forma da cobertura, a iluminação foi um desafio, e precisou levar em conta até a transmissão televisiva dos Jogos Olímpicos e as necessidades dos atletas. Combina iluminação elétrica — fluorescente e de LED — e luz natural, obedecendo minuciosos estudos sobre o entorno das piscinas.

Outras 3 grandes obras:

GUANGZHOU OPERA HOUSE

O teatro à beira do rio Guangdong (rio Pérola), na China, como em várias obras de Zaha, teve a natureza como inspiração. A arquiteta se atentou à condição ribeirinha da construção e incorporou a ela elementos que remetem à topografia e à erosão dos vales fluviais. Os prédios tomam a forma de seixos à beira do rio. Inaugurado em 2011, o projeto foi o vencedor de um concurso aberto em 2002, no qual o escritório de Zaha concorreu com outros nomes de peso, como o próprio OMA de que Zaha fez parte.
Desde sua implantação inicial, a área vizinha se expandiu bastante. Zaha previu isso e construiu as duas instalações — que somam 70 mil m² de área construída — de maneira que o espaço livre ao redor se inclinasse levemente em direção a elas. O prédio maior comporta até 1.800 pessoas no auditório principal. O menor possui um espaço para ensaios que comporta até 400 pessoas. O Guangzhou Opera House tem ainda: café, restaurante e um grande espaço para circulação.
O auditório é revestido por painéis de gesso reforçados com fibras de vidro, privilegiando um elemento caro à Zaha: luz natural. As linhas assimétricas do projeto, outra marca da arquiteta, também ajudam na acústica — essencial em uma ópera.

CENTRO ROSENTHAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA

Mais uma obra intercontinental de Zaha Hadid, está localizado em Cincinnati, Estados Unidos. O centro original foi umas das primeiras instituições de artes visuais contemporâneas do país, e data de 1939. Em 1997, foi lançado um concurso para a construção de um novo edifício para o centro. O projeto de Zaha venceu de quase 100 outras propostas concorrentes.
O conceito de Zaha era um “tapete urbano”, que se mesclasse ao cenário da cidade, ao mesmo tempo em que se destacasse arquitetonicamente. Antes, o centro ocupava o segundo piso de um empreendimento comercial. Zaha projetou o novo centro de modo a aumentar a visibilidade do Rosenthal na cidade. O saguão envidraçado transforma o espaço em uma espécie de praça coberta.
Outro conceito que guiou a construção é o de “quebra-cabeça”. Para refletir a arte contemporânea exposta no centro, o próprio prédio é feito de grandes volumes de concreto de tamanhos diferentes, entre os quais há interseções e vazios que funcionam como um enigma visual.

MUSEU MAXXI

O MAXXI, Museo delle Arti del XXI Secolo, é o primeiro museu de arte contemporânea de Roma. O desafio de Zaha Hadid, ao projetar o prédio em 1998, foi atender à demanda de uma cidade clássica em busca de modernização. Em 2010, ele foi inaugurado no bairro Flaminio, no norte da cidade.
A solução de Zaha é uma construção que vai além do conceito de objeto para depositar as obras de arte, mas um espaço para variados usos, dividido entre um museu de arte e outro dedicado à arquitetura.
Ela também pretendia que fosse um prédio sem distinções claras entre o que está “dentro” e o que está “fora”. O teto aberto inunda o espaço com luz natural, enquanto longas escadas pretas e curvilíneas, que contrastam com as paredes brancas, parecem estar suspensas.

Zaha no Brasil

A “rainha das curvas” percebeu o paralelo de suas obras em relação ao trabalho de outro apaixonado pelas linhas curvilíneas e sensuais: Oscar Niemeyer. “O mundo não é um retângulo”, sentencia Zaha em uma entrevista, “Você não vai a um parque e diz: ‘Meu Deus, nós não temos nenhuma quina’. (…) Nós não lidamos com ideias normativas e não construímos prédiozinhos agradáveis”.
Ela chegou a visitar Niemeyer mais de uma vez no Rio de Janeiro. Por ocasião da morte do arquiteto, em 2012, declarou à revista Azure que ele a “encorajou a buscar minha própria arquitetura de total fluidez. Muitos arquitetos experimentam com a forma, mas Oscar levou seu trabalho a um nível muito mais alto — usando todas as vantagens do concreto em lindas formas fluidas”.
Foi justamente para a cidade natal do carioca que Zaha projetou seu primeiro trabalho no Brasil — e na América Latina. O edifício residencial Casa Atlântica, que deve ser inaugurado em 2018, na Avenida Atlântica, na Praia de Copacabana.
A moda brasileira também ganhou com o talento de Zaha. Um dos sapatos da coleção de verão de 2009 da marca Melissa foi assinado por ninguém menos que a arquiteta. O Melissa + Zaha Hadid é um calçado com o mesmo aspecto leve e curvilíneo da maioria dos prédios construídos por Zaha, mas ainda funcional.

Principais prêmios e homenagens

Zaha Hadid foi a primeira mulher a receber o maior prêmio da arquitetura mundial, o Pritzker. Desde 2004, data em que ela foi laureada, apenas uma mulher recebeu a honraria, em 2010 — a japonesa Kazuyo Sejima, que, mesmo assim, dividiu o prêmio com um colega homem.
Desde o início deste século, não houve sequer um ano em que Zaha e seu escritório não receberam pelo menos um prêmio, como você pode conferir nesta extensa lista de premiações.
Pessoalmente, Zaha recebeu uma das maiores honras do Reino Unido, em 2012. Ela foi declarada Dama da Ordem do Império Britânico, em lembrança ao seu legado na arquitetura. O título é o correspondente feminino a Sir.
Em 2008, ela ocupou a 69ª posição na lista da Revista Forbes das 100 mulheres mais poderosas.
Ela já foi laureada 19 vezes em várias categorias de um dos prêmios europeus de arquitetura mais importantes, o RIBA – da Royal Institute of British Architects.

O Resumo da obra

Zaha Hadid, a “rainha das curvas” na arquitetura, como ficou conhecida, deu vida a projetos ousados em todo o mundo, e foi a primeira mulher — e pessoa árabe — a receber o Pritzker, o “Nobel da arquitetura”. Sua obra é marcada por traços orgânicos e desafiadores que redefinem as interseções entre arquitetura, natureza e cidade.
O amigo e colega Rem Koolhaas, que foi professor de Zaha na Architectural Association School of Architecture, em Londres nos anos 70, e também venceu o Prêmio Pritzker e foi fundador do consagrado OMA (Office for Metropolitan Architecture), destaca a combinação de beleza e força características da arquiteta: sua coragem ampliou os horizontes da arquitetura mundial, transcendendo as noções de arquitetura no Ocidente. Com seus traços sinuosos e orgânicos, trouxe suas origens orientais para a contemporaneidade, criando algo novo e original.
Assim como a arte, a obra arquitetônica de Hadid buscava quebrar paradigmas e provocar o espectador. Explorou as formas geométricas e desafiou o conceito de gravidade vigente até o início dos anos 80 inventando uma nova física antigravitacional: Suspendia o peso de forma tão incrível e desconcertante que superava a razão, despertando emoções contraditórias, provocando curiosidade e aguçando a imaginação de quem contemplava suas obras.
No Dia das Mulheres de 2016, semanas antes de sua morte, a rede BBC pediu a uma série de mulheres célebres que escrevessem cartas para suas versões mais jovens. Zaha foi uma das convidadas, e seu texto forte e sensível revelou a personalidade extraordinária desta expoente de suma importância não apenas para e o avanço da arquitetura moderna, como também para a evolução do papel feminino na história da humanidade:
“Seu sucesso não será determinado por seu gênero ou por sua etnia, mas apenas pela abrangência dos seus sonhos e seu trabalho para alcançá-los (…) Sempre acredite no seu trabalho — ele vai conduzi-la através de qualquer situação difícil, mas aprenda a ajustar seu modo de pensar uma vez ou outra. Nunca desista.”
Apesar de declarar em sua carta que o gênero e a etnia não definem seu trabalho, ela sempre ressaltou que ser mulher e árabe afetava sua carreira, positiva ou negativamente. A enorme resistência que enfrentou por ser árabe e mulher, foram obstáculos que teve que superar em sua trajetória profissional: “É como uma faca de dois gumes. No momento em que aceitam que eu seja uma mulher, o problema passa a ser minha origem árabe”, dizia.
Zaha Hadid dedicou sua vida à arquitetura. Não se casou ou teve filhos, e sempre deixou claro que não considerava isto uma questão ou um sacrifício, mas algo não obrigatório que simplesmente não aconteceu. Mesmo sem filhos, influenciou sua sobrinha, Rana Hadid, que também se tornou arquiteta. Em um ensaio após a morte de Zaha, Rana relembrou um de dos preciosos ensinamentos de sua tia: “a vida é melhor quando você constrói pontes entre as pessoas, e não muros”, dizia ela, revelando seu ideal de utilizar a arquitetura como forma de quebrar barreiras e encurtar distâncias entre as pessoas.
Em 2017, em protesto contra a política de intolerância racial do presidente Americano Donald Trumpo, o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), substituiu quadros de Picasso, Matisse e Picabia por trabalhos de artistas muçulmanos, e elegeu Zaha Hadid como representante da arte muçulmana, expondo uma das pinturas do The Peak, trabalho pioneiro de Zaha, está entre as obras em exposição.
A Arquiteta emblemática faleceu em março de 2016, aos 65 anos. O Jornal The New York Times, em seu obituário, descreveu a obra de Zaha ressaltando que suas “elevadas estruturas deixaram uma marca nos horizontes e imaginações ao redor do mundo e, no processo, reformularam a arquitetura para a modernidade”.
Com seu fascínio pela arte abstrata, seu grandioso legado deu forma concreta a projetos arquitetônicos ambiciosos com a marca inconfundível desta grande representante da arquitetura moderna e universal.

Categoria: Arquitetura
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Adrimar Construtora

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